Para líder socialista dos EUA, apoio de Biden a Israel ajudou vitória de Trump
Renée Paradis, dirigente do DSA, protagonizou debate promovido pelo DAP e a vereadora Luna Zarattini
📸 Ao centro, de azul, a vereadora Luna Zarattini e ao seu lado esquerdo, a líder socialista dos EUA, Renée Paradis.
O apoio incondicional do governo de Joe Biden, nos Estados Unidos, ao genocídio em curso na Faixa de Gaza, desfechado há mais de um ano por Israel, foi um dos principais fatores para a derrota eleitoral de seu partido, o Democrata, nas recentes eleições para Donald Trump. Essa é a opinião de Renée Paradis, dirigente do agrupamento Democratas Socialistas da América (DSA), exposta em debate realizado nesta terça (3/12) pelo Diálogo e Ação Petista (DAP) e pela vereadora Luna Zarattini (PT). Promovido na sala Tiradentes, da Câmara Municipal de São Paulo, reuniu dezenas de participantes, além dos que acompanharam a transmissão (veja aqui).
A atividade foi aberta por Luna, que explicou o impacto internacional das eleições nos EUA e a importância de conhecer e debater a análise de um dos principais agrupamentos de esquerda daquele país. Também participaram da mesa dos trabalhos Jana Silverman, dirigente de relações internacionais do DSA – que fez a tradução das falas de Renée –, e Markus Sokol, pelo DAP.
“A direção do Partido Democrata ignorou a revolta em sua base com o massacre que Israel promovia na Faixa de Gaza. Não acho que foi só essa questão que derrotou os democratas, mas, em Michigan, por exemplo, o número de votos de protesto (uncommitted) nas primárias pela questão Palestina foi maior do que a diferença que deu a vitória a Trump”, afirmou Renée, advogada especializada em direitos civis.
Condições de vida
Ela explicou que a situação da classe trabalhadora norte-americana vem piorando nos últimos anos. “Os trabalhadores dos EUA não têm uma boa condição de vida em comparação com os da Europa. Nos Estados Unidos, não temos saúde pública, nem muitos direitos trabalhistas, poucos têm direito à sindicalização, e está cada vez mais difícil conseguir uma casa própria”, afirmou. Para Renée, depois dos benefícios da ajuda emergencial e do seguro-desemprego durante a pandemia, em 2020-21, a classe trabalhadora não viu o atual governo tomar medidas em seu favor, o que ampliou a distância em relação aos partidos políticos e solapou a base eleitoral dos democratas.
Nos Estados Unidos, o sistema político se apoia na dominação de dois partidos – o Democrata e o Republicano –, sendo que o primeiro possuia uma relação mais estreita com o movimento sindical. Segundo Renée, é crescente o número de pessoas sem filiação partidária, que enxergam os partidos como uma elite de Washington que só aparece para pedir votos a cada eleição.
Como resultado, Trump venceu obtendo apenas 2 milhões de votos a mais do que em 2020, enquanto a candidata democrata Kamala Harris teve 6 milhões a menos do Biden há quatro anos.
Educação em risco
Um ponto importante do debate aconteceu com uma pergunta comparando os ataques da direita no Brasil à educação pública e à liberdade de cátedra e o que ocorre nos EUA. A dirigente socialista relatou, então, que, em seu país, “estamos vendo coisas muito parecidas: os seguidores de Trump estão numa linha de ataques aos sindicatos de professores e às escolas públicas enquanto espaços de integração social e educação de massa”.
Renée explicou que há pouca ingerência do governo federal no ensino, sobretudo nos níveis fundamental e médio. O protagonismo é dos governos estaduais e municipais. “Os principais alvos são professores gays, ou trans, ou os que falam abertamente desses assuntos. Querem também acabar com as temáticas antirracistas, chegando a adotar livros que negam os horrores da escravidão”.
Política externa
“Há grandes chances de haver consequências terríveis para os EUA e para o mundo com a eleição de Trump”, disse a dirigente do DSA. Pegando a deixa, Sokol saudou a atitude combativa do DSA em apoio ao povo palestino, e lembrou que, entre os indicados para o novo governo Trump, está o nome do senador Marco Rubio para o Departamento de Estado (ministério das relações exteriores). Rubio é um conhecido anticomunista de ascendência cubana, cuja indicação traz ameaças diretas a países como Cuba, Venezuela e Brasil.
“Estamos preocupados com o tanto de mal que os EUA vêm fazendo no mundo. Podemos prever que vão se envolver diretamente em guerras, e isso se volta contra a sua própria população. Está na hora de desenvolvermos um movimento socialista mais forte, agindo como o resto do mundo”, declarou Renée.
Sokol, por seu lado, concordou lembrando “a atitude do DAP de buscar construir relações internacionais com outras forças comprometidas com políticas de ruptura”. Para Renée, mesmo que o movimento operário e a juventude ainda não tenham consigo barrar o massacre sionista em Gaza, há um saldo positivo da enorme mobilização contra o genocídio ocorrido nos Estados Unidos nos últimos meses. “Os jovens agora sabem o que é Israel, o que é o Estado sionista. Há menos espaço para líderes pró-Israel. Uma conhecida de origem árabe me manifestou sua esperança de que seus filhos conheçam a Palestina livre.”