Luta de classes a bordo; reação às deportações precisa ser continental
No calor sufocante de Manaus (AM), avião na pista, portas fechadas, ar-condicionado quebrado e gritos, choro de crianças e empurrões, mesmo algemados e acorrentados, 88 trabalhadores brasileiros deportados dos EUA na primeira leva sob o governo Donald Trump conseguiram vencer os agentes de imigração, abrir as portas de emergência, sair pela asa e pedir socorro. Isso tudo é descrito em artigo do The New York Times reproduzido pelo Estadão.
Antes dos deportados saírem do avião, os agentes da imigração ainda tentaram retirar as algemas. Os passageiros reagiram: “Não, agora vocês não vão retirar as algemas”, disse um dos brasileiros. Ele justifica: “Porque se eles removessem as algemas, acho que a história seria diferente”.
É a luta de classes, uma expressão da resistência ao plano de deportação de 11 milhões de imigrantes em situação irregular planejada por Trump, destes 230 mil são brasileiros. Cerca de 1,5 milhão já tem uma sentença de deportação, 38 mil brasileiros também estão nesta situação. Não são poucos os relatos de medo e pânico entre imigrantes que até deixaram de levar seus filhos à escola.
Lula protestou contra as condições desumanas e o desrespeito à soberania nacional. O Petro enviou aviões colombianos para buscar seus nacionais. O México, ameaçado pela taxação de 25% sob seus produtos, já recebeu 4800 pessoas. Sob pressão, Claudia Sheinbaum, aceitou um acordo com Trump que inclui o deslocamento de 10 mil soldados para sob a justificativa de “combater o tráfico de drogas” na fronteira com os EUA. Estes soldados viriam de estados que “não têm tanto problema de segurança” e que a transferência “não deixa o resto do país sem segurança”. O futuro de cidadãos salvadorenhos (203.822), guatemaltecos (253.413) e hondurenhos (261.651) que já tem sentença de deportação é incerto.
Segundo o American Immigration Council, um grupo de defesa dos imigrantes, custaria US$ 315 bilhões (R$ 1,8 trilhão) para prender, deter e deportar todos as 13,3 milhões de pessoas que vivem nos EUA de forma ilegal ou sob um status temporário revogável.
Com todos os meios e em escala global, Trump busca reorganizar as relações políticas de dominação no mundo e nos EUA, em vista do confronto com a China. Nas américas, explora a dependência comercial com os EUA. O México exporta 76,8% de sua produção para aquele país, Canadá, 74,5%, Honduras, 51%, República Dominicana, 49,6%, o Brasil aparece em 9º lugar com 10,7%.
Nenhum governo pode sozinho
Os chamados “governos progressistas” podem e devem convocar todos os governos para a resistência comum à ofensiva de Trump e suas retaliações. Uma reunião da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) foi convocada para o dia 29 passado para debater as deportações, foi cancelada “por falta de consenso”. Milei rapidamente, como era de se esperar, tratou de deitar para que Trump não sujasse suas botas operou para impedir a reunião.
A começar, Petro, Lula, Sheinbaum, Maduro têm esse papel, sob pena um após o outro ser enquadrado pela ofensiva de um império que declarou há muito guerra total aos povos.
Marcelo Carlini – Suplente do Diretório Regional do PT/RS