Ruptura e continuidade na sucessão do PT

Com Gleisi Hoffman escalada ministra, a Executiva escolheu, conforme o Estatuto, Humberto Costa, ex-ministro e senador do PT em Pernambuco, como presidente interino do PT até a posse da nova direção em setembro. Humberto terá a missão de conduzir o PED (processo eleitoral direto).

A imprensa se debruçou sobre a sucessão presidencial do PT como se estivéssemos à véspera do dia de votação, marcado para 6 de julho. 

O ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, dito “preferido” de Lula, em campanha há mais de três meses, ganhou grande exposição. Os editores lhes dão cobertura simpática nas páginas e sites, e o Estadão, sistemático crítico de Lula, lhe brindou um editorial (10/3) de apoio – “a grande chance de um imprescindível aggiornamento do PT”.

Edinho defende a política do governo Lula no seu atual limite, ignora compromissos de campanha e se alinha às recentes medidas de ajuste fiscal. Defende ampliar as alianças à direita. Sem surpresa, seu último mandato, obtido em 2020, foi numa coligação de 7 partidos, inclusive o PL de Bolsonaro. A sucessora em 2024, sua secretária de Saúde, com 12 partidos aliados (!), foi derrotada pelo mesmo PL com um nome bolsonarista. Não há balanço afora a demonização da extrema-direita.

Atualmente, seu mote repetido é a “despolarização” do país. Nada aggiornatto, é o candidato de continuidade, contra o que temem os barões da mídia.

Esta semana, o deputado federal e ex-presidente do PT, Rui Falcão, com a trajetória de fundador do PT, lançou uma Carta Aberta à Militância Petista (leia a íntegra aqui):

“Estamos longe de uma correlação favorável de forças tanto nas instituições, a exemplo do parlamento, quanto na sociedade, mas a correlação não pode ser vista como um elemento geológico, como os mares e as montanhas, cuja mutação independe da ação humana, da luta política, e se processa no tempo infinito.

 (…) Praticamente abandonamos a discussão da reforma política, essencial para criar um ambiente de apoio a propostas fundamentais como a adoção do voto em lista partidária e a implementação de plebiscitos convocados pelo Poder Executivo e por iniciativa popular.

(…) Nosso partido deve rechaçar os apelos à despolarização, palavra da moda que significa levar-nos a uma transição efetiva para o centro, com um forte rebaixamento ideológico, programático e organizacional

(…) O estatuto do PT merece ser rigorosamente respeitado e somente pode ser alterado por decisão congressual.”

Rui voltou contra as três medidas do ajuste fiscal – gatilho para os servidores, desaceleração da valorização do mínimo e restrição do BPC. A carta de Rui  indica a correção de rumos que um candidato a presidente do PT pode abrir. O DAP com seus 13 Pontos para “Virar à Esquerda”, vê com grande simpatia e acompanha este movimento.

Foi como uma jornalista sintetizou a disputa na cúpula da CNB, depois que Lula não a convenceu (contra Edinho vários nomes lhe foram oferecidos, Humberto entre eles).

Humberto começou a presidência com uma entrevista ao Poder 360 onde questionou a Federação, que muita gente percebe o prejuízo, mas poucos falam. Já submetido a uma sabatina na GloboNews, começou dizendo que a resistência a Edinho na cúpula da CNB “não é uma briga de poder pelo poder”, mas ao fim, questionado sobre qual são as diferenças de programa, se contradisse “infelizmente está parecendo a disputa do poder pelo poder”. De fato, qual é mesmo a diferença de programa?

Markus Sokol, membro da Executiva Nacional do PT

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