EUA: A crise continua

As tarifas que Trump impôs, e em parte recuou, continuam sendo um elemento da crise dos Estados Unidos.

São uma tentativa de, através do controle do dólar, deslocar relações de dominação, buscando frear a sua decadência no mercado mundial.

Que a incerta suspensão por 90 dias termine ficando nas taxas extras de 10% aos países que exportam para o maior mercado do mundo, ainda assim significará impor um confisco aos exportadores.

Que essa medida gere, como preveem os economistas, mais inflação dentro dos Estados Unidos, também significará um confisco de renda dos trabalhadores, em favor dos setores da burguesia imperialista.

E que tenha elevado ainda mais a taxação sobre os bens chineses para 145% (!), isso termine como terminar (a retaliação chinesa de 125% ou negociações), mostra o objetivo da ofensiva de Trump, que vem desde seu primeiro governo, seguido por Obama e Biden – o conflito com a China.

O argumento “popular” de Trump, a reindustrialização do país, enfrenta o custo do trabalho interno. O único modo de trazer de volta grande parte da indústria é atacar brutalmente os direitos de trabalhadores que têm a nacionalidade e, ainda mais, aqueles que não têm (migrantes).

Tirem as mãos!

Perante à ofensiva de Trump, centenas de milhares de manifestantes foram às ruas no último sábado, em 1.200 manifestações com o slogan “Tirem as mãos!”, convocadas por muitas entidades, incluindo a central sindical AFL-CIO e seus principais sindicatos (professores, automóveis, energia), assim como pelo Socialistas Democráticos da América (DSA): tirem as mãos dos serviços públicos, dos direitos dos trabalhadores, tirem as mãos dos migrantes, como também de Gaza.

Reagirão os governos?

No caso do da América Latina e do Brasil, pelo momento, não parece. No último dia 9, terminou em Tegucigalpa, Honduras, a 9ª Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que era o momento de discutir uma atitude. Mas a Declaração Final firmada não tem as palavras Estados Unidos e Trump, ou taxação, nem sequer migrantes!

É claro que alguns discursos retóricos passavam perto, mas não propunham nada de concreto contra as perseguições e violações do direito a migração, ou contra as taxações unilaterais.

No caso do companheiro presidente Lula do Brasil, que também ganhou a sua taxa de 10% (além da taxa sobre aço e alumínio), a fala, retomando a sempre mencionada integração continental, estava claramente enroscada pela defesa do acordo de livre-comércio do Mercosul com a União Europeia. Ele não sai do lugar pela falta de consenso europeu, mas tem a oposição do MST, da CUT e outros setores.

Virar à Esquerda

Lula não se dá conta que o livre-comércio não defende os povos, ao contrário, defende os mais fortes e ricos. Inclusive o livre-comércio é um fenômeno desindustrializador e fator da migração em busca dos postos de trabalho “migrados”. A anulação deste acordo Mercosul-UE, obstáculo para a defesa da produção nacional, é um dos 13 pontos da plataforma “Virar à Esquerda” apresentada pelo DAP neste PED.

Markus Sokol, membro da Executiva Nacional do PT

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