DIÁLOGO PETISTA: UM ESPAÇO DE DISCUSSÃO
No 4º Congresso do PT, um terço dos delegados colocou em questão o PED e suas regras, pelas quais foram eleitos. Que conclusão tirar?
Já no Encontro Nacional do Diálogo Petista (13/12/09), várias intervenções, de petistas de diferentes origens, ressaltaram a falta de democracia e os problemas do PED. Como disse à época o companheiro Vitor (ligado à deputada estadual Raquel, do Ceará): “O PED acabou como a democracia burguesa onde as campanhas são financiadas pelas grandes empresas. Há uma degeneração muito grande, destruindo o vínculo de luta da classe trabalhadora”. (OT 669)
A expressiva votação no 4º Congresso da emenda que propunha o fim do PED demonstra que realmente são muitos os militantes que buscam retomar a boa tradição petista de discussão que tome por base a luta dos trabalhadores.
Com esse objetivo, o Encontro Nacional do Diálogo Petista, em dezembro, também discutiu como fazer chegar ao 4º congresso os problemas que interessam à classe trabalhadora. Algumas das propostas submetidas aos delegados do 4º Congresso, apresentadas por petistas identificados com diferentes correntes, foram frutos daquele Encontro. É o caso das propostas da retomada do monopólio do petróleo para a nação brasileira, defendida pelo companheiro João Moraes, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT) e do respeito à soberania do povo haitiano, com a imediata retirada das tropas de ocupação, defendida pelo companheiro deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP).
A conclusão que tiramos da votação pelo fim do PED é que as reuniões regionais do Diálogo Petista, outra decisão do Encontro de dezembro, são mais necessárias do que nunca para dar espaço de discussão e ação aos militantes do PT que, independente da corrente à qual se associam, buscam fazer do PT a expressão dos interesses e da luta dos trabalhadores.
Em defesa do Petróleo
Na abertura do 4º Congresso os delegados receberam uma carta, assinada entre outros por João Moraes, Coordenador da FUP, que apresentava a discussão sobre o petróleo, colocando a importância do PT “se engajar, com a CUT e os movimentos sociais, nessa discussão e na necessária mobilização para retomarmos para a nação brasileira o que nos foi retirado”. Moraes, que defendeu no congresso, uma emenda nesse sentido, fala do resultado desse combate.
Foi importante distribuir a carta?
Creio que sim. Nos próximos anos a disputa pelos recursos naturais tende a se acirrar, pois eles estão se exaurindo. Isso vai ser uma questão de vida ou morte. Por isso é muito importante que os militantes petistas tomem consciência dessa luta. A carta serviu para isso. Para socializar com os 1350 delegados este tema central. E acredito que agora eles vão irradiar essa discussão, de uma maneira mais contundente, nas suas áreas de atuação política.
Qual sua apreciação da discussão no Congresso?
A discussão foi muito importante, apesar de não ter sido aprovada a emenda que melhorava o texto de diretrizes de programa. A emenda não foi aprovada mas, certamente, foi a votação mais dividida em todo o congresso. O que demonstra que o texto que passou não é uma questão totalmente resolvida no PT. Dada a importância do tema deveria ter tido mais tempo de debate. Mas, como se diz, um só passo e não estamos no mesmo lugar, andamos para a frente. Portanto a iniciativa dos companheiros que propuseram a emenda foi uma ajuda.
Os projetos do governo estão sendo ainda mais rebaixados no Congresso, como prosseguir a luta ao redor do projeto da FUP-CUT, com os movimentos sociais?
As mudanças que estão sendo feitas correspondem a interesses mesquinhos das empresas e de alguns governadores. Nós vamos continuar discutindo essa questão nas nossas bases, mobilizando. Vamos continuar acompanhando o debate no Congresso, nem que seja só para denunciar os entreguistas de plantão que fazem o jogo das multinacionais. Vamos acompanhar a discussão no Senado, onde nosso projeto foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.
Mas temos a absoluta convicção que essa questão não se resolverá favorável ao povo se depender do parlamento. Temos que tomar as ruas, as praças, do contrário, ficaremos discutindo prejuízo menor. Só poderemos avançar se tiver mobilização de massa, e não só dos petroleiros.
Em defesa da soberania do Haiti
Uma moção assinada por diversos dirigentes e parlamentares, entre eles o deputado estadual Adriano Diogo (SP), foi distribuída aos delegados do 4º Congresso, afirmando que o Haiti precisa de engenheiros, médicos e enfermeiros e não de soldados, propondo a retirada das tropas de ocupação. Adriano foi um dos que defendeu a emenda apresentada ao plenário. Para ele a questão do Haiti, no PT, ainda não está resolvida.
Qual sua apreciação geral sobre o 4º Congresso do PT?
Eu acho que o congresso do PT embora tenha sido um congresso com dificuldade de fazer discussão política, engessado, com um dia só de funcionamento e muita comissão de redação e sistematização, eu acho que o congresso pelo seu final, inclusive na parte festiva, acabou sendo um congresso bom. Achei importantíssima a parte do discurso da Dilma, que não nega seu passado, de luta, contra a ditadura, quando citou até a companheira Iara Iavelberg, minha contemporânea da USP , da psicologia da USP .
Acho que nesse momento, em que tenta se descaracterizar a importância do PT com essa política de alianças tão ampla, tão aberta, foi importantíssimo para nossa história. E pelo fato de estarmos lá.
Na questão do Haiti, qual sua opinião sobre a discussão realizada?
Acho que trazer a questão do Haiti à tona foi importante. Defender a proposta para mim foi uma honra, motivo de muito orgulho. Uma defesa difícil de fazer naquele plenário, e eu não esperava ter como debatedor , nada mais nada menos, que o Marco Aurélio Garcia, uma das pessoas mais importantes na política externa da Presidência da República. Só não esperava ter sido tratado por ele como um inimigo, como alguém que não tem base, nem fundamento, nem conhecimento. Nunca viajei para o Haiti, mas o conhecimento não se faz só através de viagens. Marco Aurélio Garcia, que todos nós respeitamos, não respondeu porque o General Heleno depois de deixar as tropas, lá no Haiti, veio ser o comandante militar da Amazônia e aqui chegando já afrontou o presidente Lula, no episódio dos arrozeiros do Amapá, e ainda foi se reunir no clube militar para afrontar o governo brasileiro. Isso ninguém respondeu.
Estou mais convicto do que nunca, que fizemos um papel decente e embora tivéssemos aquela votação, naquele estilo rolo compressor , dezenas de companheiros de diversas correntes políticas vieram me abordar , vieram me cumprimentar , vieram me falar que a discussão foi de alto nível, muito bem colocada a questão do Haiti, o que orgulha o PT.
A questão do Haiti não é uma questão resolvida. Milhares de médicos brasileiros querem se inscrever como voluntários para irem ao Haiti para trabalhar , sanitaristas e de outras especialidades. Ninguém consegue se alistar para ir trabalhar no Haiti, porque
o comando militar não abre a possibilidade.