Diálogo Petista 46
UM DEBATE ABERTO SOBRE O
CONGRESSO DO PT
Rumo ao 4º Encontro Nacional em Dezembro
Ninguém duvida que o resultado do 4º Congresso tornou mais urgente o Diálogo Petista como espaço de reflexão e ação nas lutas concretas.
Agora que já estamos no terceiro mandato presidencial do PT, e as transformações não acontecem, depois deste Congresso, é realmente necessário reunir militantes de variadas procedências que veem a necessidade de outra política.
Uma política que comece agora por proteger da crise o povo trabalhador e não, outra vez, os ricos e poderosos. Isto dito, examinar o conjunto das decisões do Congresso é um debate aberto – objeto desta página – no Diálogo Petista, até o 4º Encontro Nacional que ocorrerá entre 10 e 11 de dezembro, em São Paulo.
A Coordenação Nacional que se reunirá no dia 4 de novembro ultimará a sua organização que, agora, passa pelas reuniões locais do DP em curso.
Lúdio alerta:
“decisões podem comprometer”
Em depoimento, o vereador petista Lúdio Cabral, de Cuiabá, explica como “as decisões do Congresso representam avanços, mas também retrocessos que podem prejudicar o partido”:
“A ampliação da participação em todas as instâncias de grupos que ainda representam minorias é um avanço. E impõe, ao mesmo tempo, uma exigência fundamental a qualquer movimento de massa, que é um trabalho consistente de formação política para que se tornem realidade.
É por meio do diálogo do partido com os movimentos sociais e das lutas cotidianas do povo que a agenda de formação precisa se materializar.
No entanto, outros dois pontos representam o distanciamento do partido das práticas iniciais de participação dos filiados e a defesa dos interesses dos trabalhadores, que diferenciam o PT da maioria dos partidos.
Primeiro, a participação democrática dos filiados nas decisões internas ficou comprometida a partir da aprovação da alteração na realização das prévias. Agora, dois terços dos membros dos diretórios podem decidir pela não realização, o que antes era feito toda vez que dois ou mais filiados disponibilizavam os nomes para disputar eleições majoritárias. Essa mudança fragiliza as forças minoritárias em eleições para cargos majoritários.
Nesse sentido, a volta das eleições para definir direções partidárias em encontros de delegados também representaria o fortalecimento político do PT, mas o congresso acabou mantendo o Processo de Eleições Diretas (PED). O PED, a despeito do discurso da participação democrática, fragiliza o debate e transforma a disputa pelas direções em ‘gincanas’ despolitizadas.
Segundo, sobre a defesa dos interesses reais dos trabalhadores, foi um retrocesso a manutenção da mesma política de alianças partidárias vigente hoje, que mantém o PT refém das ditas coalizões parlamentares e impedem mudanças estruturais em nosso país na direção do socialismo.
É preciso que o PT passe por um profundo processo de autocrítica, porque suas decisões estão restringindo a atuação dos petistas e dificultando a aplicação do projeto do partido.
Eudes: 4º Congresso,
renovação ou desfiguração do PT?
“Milhares de petistas se confrontam ao agravamento da crise, sem encontrar nas resoluções tomadas qualquer saída para a situação”, explica Eudes Baima, dirigente da Corrente O Trabalho no PT do Ceará.
Depoimento:
“Num contexto da crise econômica com repercussões no Brasil, os petistas se defrontam com medidas do governo de coalizão que levam ao choque do PT com sua base social. É o caso da desoneração da folha de pagamento, da privatização dos aeroportos e da elevação do superávit primário depois dos cortes no Orçamento, por exemplo. O resultado é que governos, inclusive do PT nos Estados e municípios, se negam a pagar o Piso dos professores, e a inflexibilidade federal face às reivindicações com o questionamento do direito de greve (pedidos de ilegalidade) e, em alguns casos, a repressão, como em junho com os professores de Fortaleza e, agora, com o governo cearense (Cid Gomes, PSB, apoiado pelo PT) contra os do Estado.
Os militantes não tiveram do 4º Congresso uma resposta a esta situação. A marca do Congresso foi o aplauso da maioria das correntes, inclusive à “esquerda”, à política do Governo determinada pela aliança com o PMDB, “aliado” que é um obstáculo ao que sobrou de “agenda própria” do PT – a reforma política e a regulação da mídia. Aliás, se ampliou a margem de coligações, com a admissibilidade do PSDB/DEM/PPS – desde que em chapas separadas.
Nessa situação, como ver na ampliação de cotas internas (paridade etc.) um sinal de renovação no partido?
A solução para a apartação do PT dos movimentos sociais não se encontra na sua transformação numa “federação” (cotas), ao largo das bandeiras concretas de cada frente da luta de classes, aí incluída as lutas específicas de negros, jovens e mulheres? Se está claro que o Congresso não avançou a luta dos trabalhadores organizados em s
indicato, tampouco avançou a arquivada luta pelo aborto legal, ou o fim da discriminação e do genocídio da juventude negra, ou pelo passe-livre, e assim por diante.
A solução positiva é, nas lutas em curso, reatar com as bandeiras fundadoras.
Juliana: “Simbólico na paridade,
errou nas alianças”
Em depoimento, a vereadora Juliana Cardoso (PT-SP), avalia alguns aspectos da Etapa Estatutária do 4º Congresso do PT, ao qual foi delegada por sua chapa.
“Para mim foi simbólico a questão da paridade das mulheres e da inclusão dos jovens, pois sempre reclamamos que o PT não tem mais jovens, e acho que nesse ponto avançou. A questão da limitação dos mandatos parlamentares (3 mandatos de deputado e 2 de senador) é importante, para que não tenhamos sempre os mesmos. Com tudo isso, no entanto, o partido deve oferecer formação política para que a participação das mulheres e dos jovens não seja somente pro forma, para que possam militar de fato. O PT é bem machista e nunca achei que a paridade fosse passar.
Agora, o PT errou na questão da ‘política de alianças’ e a resolução não inclui, erradamente em minha opinião, o PSD do Kassab entre os partidos com os quais o partido não deve fazer aliança.
Aliás, hoje já temos vários partidos com os quais não deveríamos estar juntos, mas o PSD não dá. E não é porque em São Paulo, onde decidimos por candidatura própria, isso já está resolvido, que devemos nos aliar em outros lugares com um inimigo. Foi erro, pois no Brasil sei que precisamos de alianças para governar , mas não com nosso inimigos…
Igualdade e justiça social não se consegue em alianças com o PSDB do Serra ou com o PSD do Kassab. Os fins não justificam os meios, e no caso das alianças o congresso errou.”