Conferência Mundial Aberta contra a Guerra e a Exploração (4)
Por iniciativa do Acordo Internacional dos Trabalhadores e Povos (AcIT) e organizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) da Argélia (país do norte da África), realizou-se com sucesso a 9ª Conferência Mundial Aberta (CMA) contra a guerra e a exploração.
O Diálogo e Ação Petista (DAP), agrupamento de militantes do PT que participou ativamente na preparação dessa conferência, sendo aderente do AcIT desde a sua formação, apresenta, nessa quarta e última matéria, os seus resultados.
Com a palavra alguns dos participantes da Conferência de Argel, todos vindos em busca de uma ação comum
Da palestina: Iman Abusalah
– Frente Sindical da Cisjordânia-
“O movimento sindical está retrocedendo por causa da Autoridade Palestina (AP) que tenta controlá-lo, em acordo com os patrões. A AP permitiu a privatização de setores como eletricidade, água e comunicações. A repressão à ação sindical apareceu em questões como a da reforma da Seguridade Social, que combatemos.
Sabemos que o Hamas controla a Faixa de Gaza e a AP controla a Cisjordânia. Na situação atual eles estão obrigados a aproximar-se, mas na vida cotidiana não sentimos diferença.
A situação das mulheres, por exemplo, que são 11,6% das pessoas empregadas no setor privado e 19,4% no público, é marcada pelo desprezo a seus direitos trabalhistas. O salário mínimo é de cerca de 400 dólares, mas muitas mulheres ganham pouco acima de 100 dólares. Seu direito à licença maternidade não é reconhecido e mesmo com igual trabalho que os homens não tem salário igual.
Já as mulheres que trabalham nos territórios ocupados (Israel, NDT), em trabalho doméstico ou agrícola, sofrem mais violência ainda do que as que trabalham em Gaza ou na Cisjordânia, gastando muito tempo para chegar ao trabalho ao passar por postos de controle ou tentando evitá-los.
É a segunda vez que participo numa Conferência Mundial Aberta. Constato, não sem certo orgulho, como os delegados vindos de todos os continentes afirmaram seu apoio à causa palestina.”
Da Rússia: Oleg Bulaev
– militante do Partido Revolucionário do Trabalhadores –
“Depois da era stalinista, o movimento operário perdeu grande parte de sua tradição. Com a queda da URSS, o espectro político ficou de ponta cabeça. Com a crise econômica a burguesia russa está atacando direitos dos trabalhadores, os salários e os trabalhadores imigrantes. Defendemos que estes tenham os mesmos direitos que os trabalhadores russos. Recusamos a divisão dos trabalhadores sobre a base de sua nacionalidade: só há uma classe trabalhadora.
Na Rússia os sindicatos ‘amarelos’, vinculados à administração das empresas, permanecem em geral passivos, ainda que alguns de seus membros tenham experiência e às vezes é possível fazê-los tomar uma posição de defesa dos trabalhadores. Quando encontramos um sindicato independente, nos apoiamos nele, quando não existe, ajudamos os trabalhadores a criá-lo.”
A nossa classe está confrontada em todas as partes com ataques às suas conquistas. As guerras são parte de uma estratégia contra os trabalhadores, criando migrantes e exigindo de nossa classe renunciar às suas conquistas.
Da Venezuela: Raúl Ordóñes
– Deputado Constituinte –
“A soberania nacional é intolerável para o imperialismo. Ganhamos um respiro com a eleição da Assembleia Nacional Constituinte, mas é claro que o governo dos EUA não aceita e endurece o bloqueio contra a Venezuela.
O governo Maduro está submetido a pressões contraditórias, mas é um muro de contenção contra a ofensiva do imperialismo. Em 2016 sofremos com um ciclone, com o bloqueio dos EUA e o golpe no Brasil. Apesar disso, as conquistas do povo venezuelano foram mantidas
O fato da conferencia de Argel ter tomado posição pela defesa da soberania das nações é um ponto de apoio para a nossa luta na Venezuela.”
De Portugal: João Vasconcelos
– Deputado do Bloco de Esquerda-
“O governo português é fruto da maioria parlamentar obtida em 2015 pelo Bloco de Esquerda, o Partido Socialista e o Partido Comunista. Um acordo mínimo para tirar a direita do poder e deter a degradação do país, anulando medidas de redução de direitos, melhorando a renda da família trabalhadora.
Nesses dois anos se aprovou uma lei de Finanças que alivia a carga fiscal das famílias, mas o orçamento não responde às necessidades dos serviços públicos. Isso porque o governo e o Partido Socialista estão submetidos a Merkel (governo alemão, NDT) e a Bruxelas (sede da União Europeia, NDT).
O Bloco de Esquerda reclama, mas temos apenas 10% do eleitorado. Pressionamos por medidas mais favoráveis aos trabalhadores, via uma revisão do Código de Trabalho. As companhias elétricas têm lucros enormes, que queríamos diminuir em favor da população. Mas o PS rompeu com esse acordo, sendo acusado pelo Bloco de Esquerda de submeter-se aos interesses dos grandes desse mundo”.
Do Níger: Saidu ABdu
– Sindicato dos Trabalhadores do Petróleo –
“Na multinacional que nos emprega não existia qualquer convenção coletiva. Criamos o sindicato em 2013 para exigir tabelas salariais, aumentos e melhoria nas condições de vida, como o seguro de saúde, alojamento e alimentação. Tivemos dirigentes demitidos e decidimos ir à greve até que obtivemos as reivindicações e a anulação das demissões. Trabalhadores de outras empresas subcontratadas nos seguiram e tivemos que fazer novas greves.
Os dirigentes políticos não são conscientes do que está em jogo com o controle do petróleo pelas multinacionais. Os dirigentes sindicais têm a responsabilidade de ajudar os trabalhadores a tomar consciência da situação e a defender-se. Aproveito para felicitar o Acordo por nos permitir estabelecer novas perspectivas para lutar contra a exploração e a guerra em nosso setor.
Da Argélia: Bualem Amara
– Sindicato Autônomo dos Trabalhadores em Educação –
“Penso que os trabalhos da conferência tiveram total êxito, tanto do ponto de vista organizativo, quanto pela qualidade dos participantes vindos de 42 países. Houve um intercâmbio frutífero entre todos e aprendemos muito das experiências de nossos companheiros e companheiras.
É preciso manter o contato para que continuemos a luta juntos. Sabemos que nem a paz, nem a prosperidade serão para já, num mundo governado por loucos engajados em guerras com fins comerciais. Somente a luta e a união dos povos poderão deter essa corrida desenfreada de armamentos e exploração. Missão difícil, mas não impossível.
O mundo está em perigo e devemos federar nossas forças para criar uma sinergia que faça frente a todos os aventureiros que querem convertê-lo num inferno ao invés de um porto de paz”.