E eles me pediram pra voltar
Por Célia Demarchi
Eu voltava pra casa, após o ato singelo de despedida de Audálio Dantas, no Sindicato dos Jornalistas, até um pouco deprimida, cansada de procurar na expressão e nos gestos das pessoas por quem passo nas ruas algum sinal de lucidez, de indignação. O posto de gasolina que anteontem só vendia carvão e lenha, estava aberto. Caminhei até os frentistas, eram três, que conversavam entre eles e perguntei se o abastecimento já havia se normalizado. Disseram que o posto vendeu hoje, volume de combustível equivalente a 15 dias, já que quase toda a clientela estava desabastecida, e que há estoque para amanhã. Foi aí que um deles fixou os olhos no bottom “Lula livre”, que faço absoluta questão de ostentar como gesto mínimo, ainda que solitário, de protesto. Dos olhos dele brotou uma alegria límpida e da boca um sorriso largo. Começamos uma conversa de camaradas: os três mostraram que sabem exatamente o que está acontecendo no país, com Lula e com o preço dos combustíveis. Não pudemos conversar muito porque logo começaram a chegar clientes. Mas deu tempo de eles dizerem que provavelmente os caminhões retomam a paralisação semana que vem porque continuam “putos” e me pediram pra voltar, desta vez com bottons também para eles. Sabe criança quando ganha sorvete? Fiquei assim!