Livro: O que é jornalismo operário

Há 5 anos, nessa data, falecia Vito Giannotti. Italiano e operário metalúrgico em São Paulo, participou no final dos anos 70 e início dos 80, segundo ele mesmo, “com paixão das lutas da Oposição Sindical”. Em sua homenagem, publicamos uma resenha de Mateus Santos sobre seu livro O que é jornalismo operário. “Como fazer um jornal que atinja o trabalhador?” é a razão desse livro simples, curto e direto, indicado pra todos que fazem comunicação popular.

“O que é jornalismo operário”: Um livro simples, curto e direto

O livro parte de uma pesquisa do autor sobre o operário, seus hábitos e modo de vida. Trabalhando em fábricas de São Paulo, Giannotti teve a oportunidade de fazer a pesquisa “in loco”. O operário lê? Pergunta-se Giannotti. E para analisar, ele busca informações do IBGE, conversa com jornaleiros de bancas próximas a grandes fábricas, além de observar as conversas dos operários e também perguntar-lhes diretamente.

Papo reto

“Uma frase ideal, para um jornal operário, tem três palavras”. “Analisando o estilo de fala do operário, percebe-se que as frases mais comuns são de cinco ou seis palavras”, diz Giannotti. É como se Vito falasse: “menos é mais”. Porém ele se preocupa também em não empobrecer o texto: com o “esforço de simplificação há o perigo constante de cair no simplismo que acabará por empobrecer o texto. (…) texto complicado e ininteligível e texto superinteligível, porém desvirtuado, não interessam ao jornalismo operário. O desafio que fica é encontrar o equilíbrio entre esse recife de um lado e um atoleiro do outro.”

Exemplos e antiexemplos

O autor trás “exemplos e antiexemplos” de comunicação operária, a partir do exame de títulos e textos dos jornais da Oposição Metalúrgica e do sindicato. Vale a pena estudá-los, sobretudo os exemplos de como NÃO escrever.

O jornal Notícias Populares

Giannotti dá dicas de como escrever títulos atrativos, partindo da análise dos títulos do saudoso jornal Notícias Populares: “os títulos do NP são simpáticos. Eles entram em sintonia com o leitor. Usam palavras extremamente simples, da linguagem do dia-a-dia. Muitos deles são um festival de gíria.”

Uma capa do jornal Notícias Populares
Uma capa do jornal Notícias Populares

Conclusão

Giannotti conclui que a forma do texto é determinante para passar a mensagem no jornalismo dirigido (ao operário). Diz ele: “enfatizamos o tempo todo é que tais conteúdos ou são comunicados de forma compreensível, ou são absolutamente inúteis”. “O jornal operário corre o risco de ser um papel inútil se não tiver essa preocupação constante”. Giannotti ainda cita, em sua conclusão, um trecho do artigo O jornal e seu leitor, escrito em 1922 por Leon Trotsky: “para Trotsky, que além de líder da Revolução Russa era um experiente escritor, aparecia clara a exigência de abandonar o ‘hermetismo e a gíria política inacessível a nove décimos dos camponeses e aos operários’”. Sem isso – conclui Giannotti, “o operariado continuará passando indiferente pelos portões das fábricas onde lhe são oferecidos jornaizinhos incompreensíveis e conseqüentemente inúteis”.

E nos dias de whatsapp?

Hoje em dia, não só os operários, mas todos os trabalhadores e demais explorados trabalham mais e mais. O tempo é mais limitado, portanto. Assim como há um tsunami de informação nos “feeds” das redes sociais e nos grupos de Whatsapp… O simples e direto proposto por Trotsky e por Giannotti para os operários passou a ser regra para a internet: os mecanismos de SEO – Search Engine Optimization – indicam que os textos devem ser escritos com períodos curtos, diretos e com vários intertítulos. Isso tudo para ficar uma leitura “leve”. Claro, tudo isso baseado em muita análise de dados de comportamento dos internautas. Vale a pena a leitura do livro de Giannotti para os tempos atuais.

Mateus Santos
um dos editores do site petista.org.br

O que é jornalismo operário
Coleção Primeiros Passos
Editora Brasiliense, 1988
ISBN 81-11-01208-7
R$ 8,00 (usado)
Site Estante Virtual


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