A dor da gente não sai no jornal
Os trabalhadores da saúde que se reúnem no Diálogo e Ação Petista do Ceará realizaram no último dia 24 um apelo: “Não é mais possível seguir assim. É preciso romper com a imobilidade de nossos parlamentares petistas e do próprio partido. É preciso ultrapassar a política do ‘fique em casa’ que imobiliza nossas organizações sindicais. Precisamos fazer este clamor chegar ao governo (Camilo) e ao comitê gestor da pandemia (…)”. Leia o documento na íntegra.
A dor da gente não sai no jornal
Apelo do grupo de base DAP de trabalhadoras e trabalhadores da saúde no Ceará
Passamos do colapso ao caos!
Esta semana chegamos a 300 mil mortos contabilizados no Brasil nesta pandemia. 13 mil deles no Ceará.
Os dias a nossa frente não prometem nenhuma melhora. Ao contrário, o horizonte é aterrorizante para o povo trabalhador, a maior vítima da pandemia. Não há, no curto prazo, expectativa de vacinação em massa pelo SUS, os governos, inclusive o governo cearense, à frente o governador Camilo, de nosso partido, o PT, não testam e, assim, não rastreiam a epidemia e nem tomam providências, mesmo que paliativas, para reduzir os danos e as perdas humanas. Não temos indicativos seguros da disseminação do vírus entre as trabalhadoras e trabalhadores da saúde, mas sabemos da alta incidência de casos e mortes na categoria. Por último, perdemos mais uma companheira, a trabalhadora Ana Leda, vítima da incúria e da irresponsabilidade do Governo Federal genocida. Como ela são milhares de profissionais da linha de frente.
Estamos assistindo a pacientes morrerem sufocados no hospital do Coração de Messejana sem sequer chegar ao primeiro atendimento. Os leitos de UTI para Covid estão esgotados, o que inclui o esgotamento dos profissionais que neles atuam. Não há vagas, a forma precária de contratação de profissionais da saúde não assegura o atendimento regular da demanda e amesquinha a atividade destes trabalhadores. Atualmente, neste que é um dos principais hospitais da rede pública em nosso estado, ná apenas duas UTIs para Covid.
É preciso que se diga que já ultrapassamos a fase do colapso e chegamos ao caos na rede pública de saúde!
Nós, 3,5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras da saúde estamos abandonados. Para nós, trabalhadores da saúde, o problema começa quando saímos de casa para ir ao trabalho. Percorremos trechos de ruas e avenidas até o ponto do ônibus. Nesse percurso, encontramos aqueles que não podem ficar em casa, que buscam o ganha-pão, dão expediente ou procuram emprego. São ônibus, trens e metrôs superlotados e com frota reduzida. É a classe operária industrial (7,7 milhões), são os trabalhadores domésticos (6,3 milhões) e da economia informal (39,3 milhões), são os bancários (450 mil), em síntese, são outros tantos milhões que na pandemia são chamados de trabalhadores dos serviços essenciais.
Nos hospitais e unidades de saúde falta o básico, quadro decorrente da EC 95 e da política de teto de gastos que a pandemia da COVID-19 deixou tragicamente desmascarada. Alguns governantes falam em aumentar o número de leitos e hospitais de campanha, mas não temos profissionais de saúde suficientes no caos. Somos também nós que também temos que conter a indignação e, por vezes, a agressão de pacientes desesperados. Terminamos os nossos plantões exaustos e exaustas, tensos e tensas e com um pavor angustiante de estarmos levando a morte aos nossos familiares. Muitos de nós, inevitavelmente, levaram.
Não é mais possível seguir assim. É preciso romper com a imobilidade de nossos parlamentares petistas e do próprio partido. É preciso ultrapassar a política do “fique em casa” que imobiliza nossas organizações sindicais. Precisamos fazer este clamor chegar ao governo e ao comitê gestor da pandemia: abrir ou reabrir hospitais de campanha inexplicavelmente desativados, ampliar profundamente os leitos de UTI, contratar por processo seletivo emergencial novas equipes de UTI, verificar os leitos de UTI na rede privada que possam ser requisitadas pelo Estado, estender a todos os profissionais a gratificação por trabalho no atendimento na pandemia, por que não existe profissional da saúde pública que não esteja na linha de frente. É necessário também contratar profissionais com direitos assegurados, superando esta modalidade precarizada próprias das cooperativas que enriquecem se aproveitando do caos na saúde. São medidas literalmente de vida ou morte para população e para as categorias de trabalhadores da saúde!
Sabemos, porém, que estas medidas que o Governo Camilo e os prefeitos devem tomar encontram barreiras na política fiscal e de saúde pública do genocida Bolsonaro, que agora, em plena pandemia, envia ao Congresso Federal a ata de extinção do serviço público, aquele que, bem ou mal, está salvando vidas, a PEC 32 que extingue na prática a existência do servidor público. Antes na PEC 186, nossas carreiras e salários já haviam sido congelados até 2036. Por isso, é preciso remover Bolsonaro o quanto antes, sem o que não conseguiremos deter o cortejo de mortos da pandemia.
Por isso apelamos a nossas organizações, a CUT, os sindicatos, em primeiro lugar a nosso partido, o PT, e demais partidos de esquerda, aos parlamentares petistas e dos partidos de oposição a Bolsonaro para fazer chegar aos governantes nosso clamor e para empregar suas melhores forças na preparação de um amplo movimento que remova Bolsonaro e arranque as reivindicações vitais nesta situação de pandemia.
Amigas e amigos,
O quadro é este. Nenhum noticioso da mídia é capaz de reproduzi-lo porque, como diz o samba, “a dor da gente não sai no jornal”.
O grupo de base do DAP de trabalhadoras e trabalhadores da saúde apela a todos vocês para enfrentar o caos instalado e quem o promove!
- QUEREMOS VACINA PARA TODOS PELO SUS!
- QUEREMOS TESTAGEM EM MASSA!
- QUEREMOS MAIS LEITOS E CONTRATAÇÃO DE EMERGÊNCIA DE MAIS PROFISSIONAIS DE SAÚDE!
- QUEREMOS MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO! NÃOÀ CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA DE DESMONTE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
- FORA GOVERNO BOLSONARO!
Grupo de Base do Diálogo e Ação Petista de Trabalhadoras e Trabalhadores da Saúde
24 de março de 2021