Danilo Gentili é o candidato babyface do lavajatismo e da negação da política
Caro leitor, pode parecer uma piada de mau gosto, mas o ‘lavajatismo’ raiz da “República de Curitiba” já encontrou um candidato para chamar de seu: Trata-se do comediante Danilo Gentili, lançado pelo antigo Movimento Brasil Livre (MBL), aquele que era bolsonarista até anteontem.
O lavajatismo é uma corrente de opinião de extrema direita, com base nos segmentos de classe média
Durante a semana, cartazes de propaganda de Gentili apareceram em Curitiba e o ex-juiz Sérgio Moro declarou no Twitter que apoiaria uma eventual candidatura de Danilo Gentili à Presidência da República. A postagem de Moro movimentou as redes sociais no dia 9 (sexta).
Em crise e fragmentada, a direita tradicional – ou velha direita neoliberal – ainda patina na busca de uma candidatura para unificar a “frente ampla” da Faria Lima. O pífio desempenho nas últimas pesquisas eleitorais de Doria, Luciano Huck, Mandetta e Amoedo, animou a rapaziada do MBL, que descolou do bolsonarismo ainda em 2020, a fazer uma aposta em Gentili.
O MBL já comunicou os institutos de opinião para a inclusão do nome do comediante nas próximas rodadas de pesquisas sobre as eleições presidenciais de 2022. Em algumas pesquisas, Gentili aparece com 4% empatado com Doria e Mandetta.
O deputado estadual Arthur do Val Mamãe Falei (Patriota – SP) escreveu no Twitter que estaria trabalhando numa articulação para agregar nomes como o de Gentili, Moro, Kim Kataguiri, além dos presidenciáveis João Amoedo (Novo), Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). “Eu não estou imaginando. Tô trabalhando para que isso aconteça”, avisou o empolgado parlamentar paulista.
No vácuo entre a anemia eleitoral da velha direita e o desgaste gradual do bolsonarismo, o MBL acredita na ressurreição da cruzada da Lava Jato contra a corrupção, o sistema político e o que restou de estrutura estatal e pública no país após o golpe de 2016.
O conteúdo da mensagem da virtual candidatura do MBL-Gentili é a mesma da República de Curitiba: punitivismo judicial classista e neoliberalismo.
É importante registrar que o dispositivo político de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol continua operando em defesa do legado da Lava Jato em Curitiba e nos demais estados da região Sul. Movimentos e grupos como “Brasil Estou Aqui”, “Laços de Apoio ao Brasil”, “Lava Togas” e “Curitiba Contra a Corrupção” constituem um núcleo político ativo da extrema-direita lavajatista.
Uma estrutura de guerra subterrânea que visa impulsionar candidaturas ao Congresso Nacional, aos governos estaduais e federal em 2022.
A conjuntura política, marcada pela polarização e atravessada por uma crise sanitária, social e econômica sem precedentes, abriu um novo período de forte turbulência e de extrema volatilidade, provocando também um processo de decantação na extrema-direita e com impactos na velha direita. O rompimento de Moro com o governo Bolsonaro fez parte desse processo de fragmentação no campo conservador e das direitas.
A crise das atuais instituições de estado e a negação reacionária da política, fatores que favoreceram a vitória de Bolsonaro em 2018, podem abrir caminho para soluções do tipo Volodymyr Zelensky, um humorista que se tornou presidente da Ucrânia ou da emergência de um fenômeno político como o Movimento Cinco Estrelas (M5S) italiano, fundado pelo comediante Beppe Grillo. Fenômeno semelhante ocorreu na Guatemala em 2015, na América Latina.
Portanto, encarar somente como uma piada o esforço do MBL e da escória lavajatista é um erro, a experiência de outros países já demonstrou a possibilidade real do surgimento de um movimento reacionário de negação da política. Afinal, o lavajatismo é uma corrente de opinião de extrema direita, com base de apoio nos segmentos mais abastados da classe média.
Além disso, a volta parcial de Lula ao cenário político [o ex-presidente ainda corre o risco de interdição] precipitou os movimentos na velha direita, que tenta construir a chamada “terceira via” ao mesmo tempo contra o presidente Bolsonaro e Lula (PT), com o objetivo de preservar a aplicação da política de recolonização neoliberal do Brasil – conduzida de forma genocida e selvagem pelo governo bolsonarista.
Na próxima quarta-feira (14), no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), a sorte do país será posta em jogo novamente, gravitando entre os signos da tragédia, da comédia e da esperança.