Bolsonaro comprou votos com o Auxílio Brasil
Alberto Handfas, 02/11/2022
A reportagem de Caco Barcelos no Profissão Repórter (1) desta semana mostra um esquema de compra de votos, através do abuso da máquina pública por bolsonaristas no município de Coronel Sapucaia (Mato Grosso do Sul): o direcionamento em massa e forçado do Programa Auxílio Brasil (PAB) ao voto em Bolsonaro, organizado pela prefeitura (o prefeito é bolsonarista, mesmo sendo do partido MDB e do estado de Simone Tebet). Trata-se de apenas um pequeno exemplo de uma monstruosa operação de assédio eleitoral desencadeada em escala nacional pelo governo genocida que fabricou milhões de votos a mais ao candidato genocida.
Pois há denúncias de operações de assédio eleitoral similares, com direcionamento eleitoreiro do PAB, por todo o país. Houve um crescimento do voto em Bolsonaro registrado tanto nas pesquisas eleitorais das semanas que antecederam o 1º turno, quanto na evolução do resultado efetivo entre os 1º e 2º turnos – particularmente nas cidades pequenas e mais pobres, com maior número de beneficiários do PAB. Os dois mapas abaixo revelam isso: os municípios mais pobres, com maior número de beneficiários do PAB (no mapa da esquerda), tendem a coincidir com os que testemunharam um maior crescimento de votos em Bolsonaro entre 2018 e 2022 (no mapa da direita), uma tendência que se aprofundou no 2º turno (2).
Apenas do 1º ao 2º turno, o crescimento de Bolsonaro superou o crescimento de Lula em 4,05 milhões de votos. É evidente que uma boa parte desse crescimento superior deriva de tal tipo específico de “roubo” eleitoral. Ainda que seja difícil precisar de forma certeira o número à mais de votos assim fabricados, é possível fazer uma aproximação estimada através de uma proporcionalidade simples entre a cidade visitada por Caco Barcelos e o Brasil.
Em Coronel Sapucaia, com seus pouco mais de 15 mil habitantes, houve 3.496 beneficiários do PAB em setembro de 2022 (3). O impacto é visível: o crescimento de Bolsonaro à mais do que o crescimento de Lula entre o 1º e o 2º turnos foi de 460 votos (veja o quadro abaixo). É razoável assumir, ainda que por aproximação, que o grosso de tal crescimento superior foi comprado por esse esquema de assédio eleitoral. Em todo o Brasil, cerca de 20,2 milhões de famílias foram beneficiadas pelo PAB em outubro (4). Portanto, se a proporção nacional for similar à dessa cidade sul-mato-grossense, pode-se estimar que mais de 2,5 milhões de votos acrescidos à Bolsonaro, acima dos acrescidos à Lula entre o 1º e o 2º turnos, foram votos comprados através desse esquemão.
Ou seja, 2,5 milhões de votos apenas em um mês e apenas com essa operação!
Mas esse esquema do PAB emergencial já havia começado bem antes, ao menos desde a aprovação da “PEC Kamikaze” em julho de 2022, que burlou a lei eleitoral e a própria Constituição, liberando o governo a fazer enormes gastos extras às vésperas das eleições. Se replicarmos tal estimativa a agosto e setembro (quando o esquema já havia começado), percebe-se que o número de votos comprados seria bem maior.
Sabemos também que este não foi o único modo de assédio eleitoral nem de compra de votos. Se incluirmos os mais de R$ 100 bilhões torrados com outras medidas dos vários pacotes “de bondades” eleitoreiras (vale gás, bolsa caminhoneiro, auxílio-taxi, redução de combustíveis e outros de PECs e leis anteriores), incluindo os mais de R$ 45 bi do Orçamento Secreto (recebidos últimos dois anos somente por deputados do Centrão que, afinal, fizeram campanha a Bolsonaro), então, o número de votos que o genocida obteve por compra de eleitores deve se aproximar de uma dezena de milhões. Isso sem contar a indústria de fake news, as 2.566 denúncias formais com 2.000 mil empresas por assédio aos seus funcionários, e as várias outras modalidades de crime eleitoral produzidos pela campanha bolsonarista.
Sem isso, a derrota de Bolsonaro – ao invés de apertada – teria sido acachapante. E o desempenho eleitoral tanto do Centrão no Congresso quanto dos candidatos bolsonaristas a governador seria muito mais fraco.
(1) https://www.youtube.com/watch?v=NAgkl2AOiLs
(2) BBC (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63148600)
(3) https://aplicacoes.cidadania.gov.br/ri/pabcad/relatorio-completo.html
(4) Min da Cidadania (https://www.gov.br/cidadania)