Comunicado do Partido Operário Independente (França)
Reproduzimos abaixo o comunicado do Partido Operário Independente (POI) francês questionando a morte de um jovem pelas forças policiais. O jovem foi morto durante um controle rodoviário. Sua morte gerou ondas de protesto no país. No comunicado, o POI questiona quem é o responsável pela violência.
Leia o comunicado.
Quem é o responsável?
O Partido Operário Independente (POI) condena a execução do jovem Nahel por um policial em Nanterre durante um controle rodoviário. O POI apoia a família e seus amigos. O funeral deste adolescente de 17 anos ainda não havia ocorrido quando o presidente Macron condenou ontem as “violências puras e injustificáveis sem nenhuma legitimidade”, chamando os pais “à responsabilidade” e enviando os blindados da polícia.
Quem é responsável por essa situação? Com qual violência está confrontada a grande maioria da população?
À violência do abandono de zonas inteiras despojadas ano após ano de seus serviços públicos, suas escolas, seu pessoal permanente, seus programas educacionais, seus hospitais, seus leitos, seus serviços de emergência…
À violência da inflação, que mergulha populações inteiras na miséria total, obrigadas a recorrer às filas de comida para sobreviver: uma em cada seis pessoas neste país já não tem o suficiente para comer.
À violência das consequências da “reforma” do seguro-desemprego, que exclui os assalariados mais precários, e, mais recentemente, da “reforma” da previdência, que impõe, especialmente aos empregados que sofrem a mais dura exploração, uma “escolha” entre morrer trabalhando até os 64, 65, 66, 67 anos… ou sair antes disso com uma aposentadoria miserável, enquanto os acionistas dos grandes trustes colhem bilhões em lucros.
À violência do serviço nacional universal (SNU), cujo objetivo é ensinar os jovens a serem eficientes em matar, bater e destruir, e de fazer o mesmo no campo da educação nacional, contrariando sua vocação fundamental e os valores da escola, que sofrem, ao mesmo tempo, uma ofensiva de destruição. Dessa forma, milhares de jovens estão sendo ensinados que os problemas são resolvidos por meio da violência, da guerra, da destruição e da exacerbação dos conflitos.
É assim que centenas de bilhões de euros são despejados para o armamento (um aumento de 40% no orçamento militar para os próximos sete anos, ou seja, 413 bilhões de euros para a guerra), enquanto a educação nacional e os serviços públicos são estrangulados. Esse é o modelo com o qual querem impregnar toda a sociedade, e podemos ver os danos e a barbárie.
A violência das instituições da Quinta República, os (artigos da Constituição-Ndt) 47-1, o 44-3, o 49-3… que permitiram ao governo passar a “reforma” da previdência contra a opinião da maioria esmagadora do país, de todas as organizações sindicais, sem qualquer votação na Assembleia Nacional.
Sem esquecer a violência policial do Estado autorizada e agravada pela lei de 28 de fevereiro de 2017 – em particular o artigo L. 435-1 – promovida pelo então primeiro-ministro socialista, Bernard Cazeneuve, sob o quinquênio Hollande, que entrega às forças de ordem uma verdadeira licença para matar no exercício de suas funções, que incentiva mutilações (olhos arrancados, mãos arrancadas) cometidas em manifestações como durante os Coletes Amarelos. E não vamos esquecer a violência da humilhação sofrida pelos controles faciais permanentes quando não há controles na saída das casas noturnas nos bairros nobres.
E o governo e seus apoiantes se surpreendem com o fato de que toda essa violência leva à exasperação, ao desespero, à raiva e, por fim, a danos? E o governo e seus apoiantes culpam os pais? Os trabalhadores, os explorados e suas famílias, a quem se nega todas as reivindicações e que já não conseguem proporcionar uma vida decente para suas famílias e seus filhos, a quem se recusa qualquer futuro e que se desesperam, eles estão no banco dos réus!
Quem é o responsável por esta situação?
É o presidente Macron e seus partidários, que estão envolvidos em todas as políticas adotadas ao longo das décadas da Quinta República, todos os componentes combinados, cada um em seu lugar (hoje a dupla Macron/Borne, ambos ontem membros dos governos Hollande e Cazeneuve), políticas que eles querem ampliar “custe o que custar”, em nome da minoria de capitalistas que se empanturram buscando destruir todas as conquistas operárias e da civilização.
É o presidente Macron e seus apoiantes quem, desde os Coletes Amarelos até as manifestações contra a lei de “segurança global”, passando pela primeira e depois pela segunda “reforma” das aposentadorias, erigiu a repressão como o “funcionamento normal” do aparelho de Estado.
É o presidente Macron e os sucessivos governos, em nome de uma ínfima minoria de especuladores, que, para se manterem, para manter o regime baseado na exploração mais feroz de todas as camadas mais exploradas em benefício dos grandes grupos capitalistas que fazem explodir todos os anos os recordes de lucros, nunca cessaram de sistematizar a repressão como o único meio de impor sua política contra a imensa maioria da população.
É o presidente Macron e aqueles que abriram caminho para ele, os Hollande, Cazeneuve, Valls… que, com sua declaração de guerra à população, criaram uma situação em que a violência do Estado mutila e mata.
Em uma manobra de diversionista inaceitável, o governo está acusando a França Insubmissa (LFI) de ser responsável pela situação. No momento em que a LFI está levantando a exigência de medidas emergenciais, como a restauração dos serviços públicos que têm sido liquidados ano após ano nos bairros da classe trabalhadora.
Para milhões de pessoas, está claro que o presidente Macron, seu governo e suas instituições estão na raiz do problema. Nas grandes manifestações que ocorreram nos últimos dias, especialmente anteontem em Nanterre, suas responsabilidades foram apontadas diretamente. Os eventos contra a “reforma” da previdência revelaram a natureza antidemocrática das instituições da Quinta República.
Os acontecimentos dos últimos dias colocam em evidência o caos a que leva a manutenção deste sistema, a barbárie para a qual gostariam de nos arrastar todos os representantes e apoiadores da ordem em benefício dos capitalistas.
Resistência, repúdio, ruptura.
Nós apoiaremos todas as iniciativas nesse sentido.
Paris, 1º de julho de 2023