Arraial D’Ajuda: antissemitismo ou antissionismo?

“O Códice Manesse”, alemão, 1300, representando Süsskind von Trimberg, o primeiro poeta judeu conhecido a escrever em alemão, usando um chapéu que o identifica como judeu

Em depoimento à Policia Civil da Bahia, no último dia 4, a dona de uma loja em Arraial d’Ajuda e sua advogada denunciaram como “antissemitismo” uma agressão no dia 2 de uma mulher aos gritos de “sionista, assassina de crianças!”. A acusação foi imediatamente retomada pela Conib (“confederação” israelita). A mídia reproduziu o caso como prova de que os apoiadores da causa palestina são racistas.

A caracterização é falsa e serve à costumeira propaganda sionista, que confunde sionismo(*) com judaísmo, e faz toda crítica ao Estado sionista ser qualificada como antissemitismo.

Em um vídeo e no relato da própria vítima, o insulto (“assassina de crianças”) refere-se apenas à sua condição de defensora nas redes sociais do belicismo sionista. Em momento algum houve menção a “judeu” ou “judia”. Em sendo assim, a motivação da agressão não foi ódio étnico-racial ou religioso (antissemitismo), mas ódio ao apoio público à política bélica de Israel

A agressão não representa a prática do movimento pelo cessar-fogo, em solidariedade aos palestinos, que conta inclusive com um número crescente de judeus mundo afora. Movimento que não pratica agressões pessoais que são contraproducentes e politicamente inaceitáveis.

Mas o caso está ligado à muito mais inaceitável, pusilânime e criminosa, manipulação dos porta-vozes do sionismo que sistematicamente acusam de racista e antissemita qualquer crítica à Israel. Seu objetivo não é proteger os judeus de ataques que existem e podem crescer com a onda direitista e xenófoba em vários países, inclusive no Brasil (bolsonarismo). Ao invés disso, visa blindar Israel conferindo-lhe impunidade na prática do apartheid e de quaisquer crimes de guerra, limpeza étnica e genocídio.

Benjamin Netanyahu discursando e ao fundo, o quadro de Theodor Herzl, fundador do Sionismo em 1892

Quem ousa criticar é “cancelado” como adepto de um novo Holocausto (genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas). Esse truque abjeto que abusa da memória das vítimas, acaba ajudando a criar mais ódio e confusão, terreno fértil para o antissemitismo, a islamofobia e outros tipos de racismo.

Alberto Handfas

(*) Sionismo, movimento ideológico ultranacionalista e chauvinista surgido entre os judeus há 132 anos (o judaísmo reivindica milhares de anos), que conflui com os imperialismos britânico e estadunidense, com apoio de Stálin, para a criação do Estado de Israel há 76 anos, mediante expulsão de palestinos de suas terras ancestrais. Pelo mundo há judeus sionistas e não-sionistas.

One thought on “Arraial D’Ajuda: antissemitismo ou antissionismo?

  • 7 de fevereiro de 2024 em 16:55
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    Importante contribuição para ampliar referencias e fortalecer as posições humanistas, contra as guerras, contra o genocidio do povo palestino

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