“Carta aberta a um líder operário”, Lula, em 1978

No aniversário do PT, publicamos a carta de Mário Pedrosa, velho militante socialista, pensador e crítico de arte, enviada a Lula em 1º de agosto de 1978, logo após Pedrosa voltar do exílio. Na carta Pedrosa antevia o surgimento do Partido dos Trabalhadores, partido do qual veio a se tornar seu filiado número 1.

Essa carta teve grande repercussão na época, no processo já em curso da luta pelo fim do regime militar. Já haviam ressurgidas manifestações de rua e, principalmente, as greves operárias no ABC paulista.

Mário Pedrosa e Lula
Mário Pedrosa e Lula

“Carta aberta a um líder operário” (trechos)

Já se ouve o reboar desse movimento de classe que sobe das profundezas da terra de Piratininga para os sertões, do Prata ao Amazonas. Esse é o movimento histórico mais importante e fecundo da hora brasileira.

Posso agora sorrir e predizer que o Brasil será um país feliz: a hora da emergência da nova classe operária e da emergência de um Brasil novo, liberto afinal da opressão, coincide. Quando Karl Marx, meu mestre, proclamou no século passado que “a emancipação dos trabalhadores seria obra dos próprios trabalhadores” – esta verdade não se apagou mais da história. Que tinha ele diante dos olhos? Um capitalismo em ascensão, um proletariado em andrajos, e Augusto Bebel, um operário alemão autêntico, como você, fundando o partido operário social-democrático alemão, que iria ser através dos tempos o partido modelo de toda a classe operária europeia, inclusive para Lenine na Rússia bárbara dos czares. Quando em 1914 abriu-se a matança inter-imperialista na Europa, e Lenine e Trotsky puderam arrancar a Rússia do massacre, derrubando o czarismo, e com uma audácia nunca vista tentaram implantar a primeira república dos Conselhos (Soviéticos); essa república, fundada apenas que fora numa heroica minoria da classe operária de Leningrado e Moscou, cidades do vasto império russo, a República dos Soviets não tardou porém a cair como a Comuna de Paris, e, em seu lugar, implantou-se a ferro e a fogo uma ditadura burocrática totalitária, com grandes realizações, sem dúvida, no seu acervo (sobretudo de ordem industrial e militar) mas imensos sacrifícios para o povo russo e seus camponeses e, até hoje, sem nenhuma liberdade.

No Brasil outro panorama começa a levantar-se; de onde parte? De um regime burotécnico-burguês-militar que trouxe, com alguns reais progressos, maior miséria e ainda maior opressão. Quais são as forças motrizes da nova situação, capazes de convocar o povo, mobilizá-lo, guiá-lo pacificamente para uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita soberanamente pelo povo? Esta classe operária que você se empenha, com seus companheiros de trabalho, em organizar em sindicatos livres da tutela do Estado, com plena autonomia, direito de greve, contratos coletivos de trabalho e uma luta intransigente contra o peleguismo

(…) Cunha-se assim, com a naturalidade das coisas elementares, o partido da consciência proletária de que você e seus companheiros estão imbuídos. Isso é penhor do futuro: fruto das tradições dos mestres, nutrido do sangue dos nossos heróis proletários. Sem a libertação do movimento trabalhista é inútil falar-se em liberdade, democracia ou socialismo.

mario pedrosa asssina ficha de filiação

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A íntegra da carta no site da Fundação Perseu Abramo

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