Moçambique: Golpe eleitoral. Apesar da repressão sangrenta, a população resiste

Venâncio Mondlane

Em Moçambique, após o não reconhecimento do resultado das eleições gerais de 9 de outubro passado, o candidato independente de oposição, Venâncio Mondlane (*), que de fato chegou à frente em número de votos, convocou uma greve geral para 21 de outubro passado que deixou vazias as ruas da capital. Noventa e cinco por cento das atividades econômicas públicas e privadas foram paralisadas em todo o país. Uma onda de repressão, incluindo assassinatos políticos, está em curso. Circulam vídeos nas redes sociais em que civis são atingidos pelas costas por tiros da polícia. Venâncio Mondlane chamou a uma grande participação no funeral de seu advogado, Elvino Dias, que foi assassinado no dia 18 de outubro.

Em nova intervenção transmitida na Internet, Mondlane convocou uma greve geral por tempo indeterminado a partir de quinta-feira, dia 24 de outubro. “Pelas vinte e cinco balas (que mataram Elvino Dias, advogado de Mondlane), vamos organizar vinte e cinco dias de terror contra os assassinos” declarou, explicando: A partir de 24 de outubro, vamos nos levantar não só contra a fraude eleitoral, mas também contra os sequestros, contra as balas assassinas. O povo, os jovens têm o direito de se defender contra os tiros da polícia. A partir de 24 de outubro, vamos nos reunir em nossos bairros, ao redor de nossas casas, sem nos concentrarmos todos no mesmo lugar para evitar os blindados do regime. A situação atual é revolucionária, é favorável à derrubada do regime. Cabe ao povo, à juventude resolver o problema”.

Mondlane apelou aos militares para baixem as armas. A Comissão Eleitoral deve publicar a contagem dos votos na quinta-feira. Os resultados oficiais, em Moçambique, são proclamados pelo Tribunal Constitucional que não está sujeito a nenhum prazo específico para se pronunciar, nenhuma data nesse sentido foi ainda comunicada.

Por seu lado, a Missão de Observação Eleitoral enviada pela União Europeia, e presente no local desde 1º de setembro passado, declarou ter “sido impedida em suas observações durante o processo de apuração dos votos em algumas seções eleitorais em distritos, em províncias e em nível nacional”. A Missão de Observação da UE também declarou ter “constatado irregularidades durante a contagem, bem como alterações injustificadas dos resultados eleitorais ao nível das assembleias das seções eleitorais e ao nível dos distritos”. Por fim, “renova a sua condenação dos assassinatos de Elvino Dias e Paulo Guambe e apela ao estrito respeito das liberdades fundamentais e dos direitos políticos”.

Em qualquer caso, é o povo de Moçambique que deve decidir o seu destino, a sua representação política, as suas reivindicações. O povo de Moçambique luta hoje pela sua soberania, que passa pela derrubada do regime no poder.

(*) Moçambique é um país lusófono no leste da África, rico em reservas de gás e minerais, governado pela Frelimo desde 1975. Mondlane, bancário de origem, comentarista político e ex-deputado, candidato de ruptura, Mondlane se apresentou apoiado por pequenos partidos.

Hélène B. e correspondentes – Informações Operárias, Paris, 23 de outubro de 2024

One thought on “Moçambique: Golpe eleitoral. Apesar da repressão sangrenta, a população resiste

  • 25 de outubro de 2024 em 08:56
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    Chega de golpes! O povo moçambicano sairá vitorioso. Moçambique Resiste!

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