A maior responsabilidade do PT é combater Bolsonaro (não arrumar donativos)

Por Markus Sokol

A maior responsabilidade do PT é combater Bolsonaro (não arrumar donativos). No último dia 16 de abril, a Comissão Executiva Nacional do PT (CEN) esteve reunida e tinha o que comemorar. Afinal, na véspera, o STF formara maioria (7 votos contra 2) para dar a vitória a Lula no recurso feito e considerar que o ex-juiz Moro era parcial e incompetente para julgar a estúpida acusação do processo chamado de “caso do triplex do Guarujá”, e outros processos mais. Lula ficou, assim, com os seus direitos políticos recuperados. Todos os oprimidos também tem o que comemorar nesta decisão, que é uma derrota institucional da máquina de perseguição contra Lula e o PT.

Mas a CEN também tinha muito com o que se preocupar. A situação do país é gravíssima. A miséria e a fome, o desemprego e o caos sanitário, o arbítrio da LSN e o obscurantismo, todos esses temas não podem ser apenas a base para multiplicar notas de protesto, lives, seminários e discursos parlamentares. Essas questões deveriam ser objeto de um plano de ação do PT como o líder de Oposição. O alvo imediato deste plano deveria ser a mobilização para verdadeiros atos de rua no 1º de Maio que se aproximava. Mas não foi assim que as coisas se passaram.

Lula que estava presente na CEN, emocionado, foi muito feliz ao lembrar que “não haverá justiça no Brasil enquanto houver moros e dalagnóis na judiciário brasileiro”. O PT deveria aprofundar esta questão, deveria discutir os meios para limpar e refundar as carcomidas instituições do país, que são as mesmas cujas latrinas produziram este Bolsonaro e seu governo.

Lula estava ali na CEN, presente como virtual candidato a presidente na mídia e nas pesquisas, a voz mais potente que tem a Oposição, e assim reconhecida pelo povo trabalhador. A luta contra a perseguição a Lula e ao PT não terminou, e continuará até a punição da quadrilha da Lava Jato (juízes, procuradores, desembargadores etc.), que está ancorada nas arbitrariedades cometidas desde o “mensalão”, ao longo de mais de 15 anos, e é respaldada, como ficou notório, pelo DoJ, o Departamento de Justiça dos EUA.

Aí está a sacanagem feita contra José Sérgio Gabrielli. No dia 15, o professor de economia baiano e ex-presidente da Petrobras no governo Lula, foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) pela compra da Refinaria de Pasadena nos EUA, em 2006. A pena do TCU é uma impagável multa de R$ 110 milhões e mais oito anos de inabilitação para cargo público. A sacanagem é que ele nem sequer teve participação pessoal nesta aquisição. Petista, Gabrielli esteve presente à reunião, convidado para explicar o seu caso, e recebeu a solidariedade da direção. Mas ficou nisso.

Não era o caso do PT se dirigir ao povo mobilizando em atos de rua neste 1º de Maio, que juntem o clamor de Justiça para Gabrielli, a punição da quadrilha da Lava-jato, a revogação da LSN, com todas as outras bandeiras sanitárias, sociais e econômicas urgentes, contra o governo Bolsonaro?

Mas não será desta vez. A reunião da CEN tomou outro rumo.

O próprio Lula informou os membros da Executiva de que o ato nacional das 9 centrais sindicais (virtual), onde ele está convidado, “será amplo geral e irrestrito, terá o FHC, é um direito da CUT convidar porque eles ficaram satisfeitos no ano passado, e eu não reclamo”.

A maioria dos dirigentes não foi além disso. Uma liderança, por exemplo, propôs assumir “assumir os eixos do 1º Maio, e, como o MST, levantar sobretudo o Lockdown nacional” –  como se lockdown fosse uma reivindicação popular, e não é. Outro dirigente propôs enfrentar o governo Bolsonaro com um “gabinete do amor” e pela “profissionalização da Comunicação da FPA e do PT nas redes sociais”. Por fim, quase todos os líderes que falaram, inclusive Lula, exaltavam a campanha do chamado PT Solidário, campanha de coleta de alimentos – a ouvir o comando do partido, esta é chave da luta no período.

Que luta? Uma nota oficial do PT comemorou 100 toneladas de alimentos recolhidas em 15 dias em todo o país, e ainda estabeleceu que essa agora é uma campanha permanente. 100 toneladas vão resolver o quê?

Ninguém precisa ser “contra” uma ação humanitária ou até uma caridade, para saber que isso não vai resolver. Na verdade, esses donativos, por melhor que seja a intenção, mal arranham o problema. Realmente, nem sequer aliviam as necessidadesdos 19 milhões que estão passando fome (além dos 125 milhões em “situação de insegurança alimentar”). O problema é que essa orientação da direção pode estar desfocando a militância do PT da luta real pelo fim do governo, que é responsável maior pela fome e pelo desemprego, e de cuja remoção depende o alívio das necessidades mais urgentes da maioria do povo.

Afinal, não é papel de um partido político fazer assistência social. Para isso existem as estruturas do Estado, federais, estaduais e municipais, com os respectivos parlamentos, que tem o dever de providenciar cestas básicas, e tem um orçamento público para isso. E também existem as entidades assistenciais, as ONGS e as igrejas que sempre fizeram isso.

O PT como partido disputa o poder político, os governos e os parlamentos, não o protagonismo da benemerência pública. Certamente, não é nem comida o que o povo espera do PT – quem distribui habitualmente cestas básicas para os pobres são os partidos clientelistas e os políticos fisiológicos, em troca da promessa de votos.

O PT deve, sim, combater a miséria e a fome, mas fazendo exigências aos governos federal, estaduais e municipais, e apresentando projetos nos parlamentos, que mobilizem o povo: exigências como a interdição de demissões, o auxílio emergencial de R$ 600 enquanto durar a pandemia, as bolsas estudantis, a suspensão do despejos, a moratória do pagamento das contas de luz, água e gás encanado, e muitas outras medidas, conforme as características locais.

É verdade que a realização do conjunto destas demandas – mais as exigências sanitárias de vacinas, testes, hospitais e verbas para o SUS – é verdade que elas se chocam com a continuação de Bolsonaro e seus generais no poder. Mas é disso que se trata: dar um fim a este governo.

Por que, então, se quer que o partido se dedique nacionalmente à coleta de alimentos?

Na verdade, parece haver uma resolução ‘não-escrita’ de esperar as eleições de outubro de 2022 e, enquanto isso, aquecer os motores coletando alimentos.

Mas justamente porque “a fome não pode esperar”, justamente porque o combate à pandemia não pode ficar na mão de um genocida, por causa de tudo isso e muito mais, é preciso lutar pelo fim imediato do governo Bolsonaro o quanto antes melhor, nem um dia mais para o genocida – esta é a responsabilidade maior do PT.

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Diálogo e Ação Petista

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