Curitiba, 10 de maio: cidade é coberta por manifestação pró Lula
E, em seu depoimento, Lula enfrenta Moro
Manifestantes, vindos de todas as regiões do Brasil, participaram do ato de 10 de maio em solidariedade ao ex-presidente Lula, que naquele dia prestava depoimento ao juiz Sérgio Moro. O ato foi convocado por entidades sindicais e estudantis, por partidos e movimentos populares.
Depois de uma passeata, logo cedo, até o centro da cidade, os manifestantes permaneceram na praça, sob o frio e a chuva, até as 20h30, à espera de Lula. O fato é uma demonstração do enraizamento de Lula e do PT nas massas trabalhadoras, mesmo após anos de bombardeio e perseguição por parte do judiciário e da mídia. Mostra também a desconfiança que cresce entre a população em relação à Operação Lava Jato, sua parcialidade e motivações políticas. O ato dos “coxinhas” de apoio à Lava Jato, no mesmo dia, não reuniu nem 50 pessoas. Talvez, prevendo tal fracasso, é que juiz Sergio Moro, dando mais uma demonstração do caráter político da Lava Jato, tenha gravado um vídeo dia antes, desaconselhando “seus apoiadores” a virem à Curitiba!
As autoridades municipais e estaduais fizeram todos os esforços para impedir o ato. Foi montado um forte aparato policial para intimidar os manifestantes, inclusive com a presença constante e irritante de helicópteros.
Porém, não se registrou um só ato de violência ou vandalismo. Por outro lado, não houve hostilidade aos manifestantes na cidade que é a sede da Lava Jato.
Militantes do Diálogo e Ação Petista de vários estados, estiveram presentes, com uma faixa em defesa de Lula e do PT e exigindo a liberdade para os dirigentes petistas Vaccari e Palocci, além de José Dirceu, recentemente libertado, mas que pode voltar à prisão.
Lula: “Quero ser julgado pelo povo”
Após quase cinco horas de depoimento, Lula chegou ao ato. Os manifestantes ocupavam compactamente toda a praça. Milhares de bandeiras eram agitadas. Lula se disse emocionado com a solidariedade e afirmou: “Se não fossem vocês eu não suportaria o que estão eles fazendo comigo. Eu disse no meu depoimento que minha relação com vocês não é de candidato com eleitor, mas de companheiro de um projeto político de pais. Eu não seria digno de vocês, do meu partido, do movimento sindical e popular aqui representado se eu tivesse culpa e estivesse aqui falando com vocês. ”
Lula reafirmou sua candidatura a presidente e disse: “ não quero ser julgado apenas pela Justiça, quero ser julgado pelo povo brasileiro”. A manifestação evidenciou o forte vínculo dos trabalhadores com suas organizações (o PT, a CUT, os sindicatos), um movimento de autodefesa que é a única garantia de derrotar os golpistas e avançar rumo às transformações econômicas, sociais e políticas exigidas pela Nação.
Lula encerrou sua fala com um chamado de “vamos à luta!”.
Lula acusa o juizeco
O depoimento de Lula à Lava Jato, tido como o grande momento da operação, não saiu de acordo com o roteiro dos golpistas, principalmente devido à manfestação de mais de 30 mil pessoas em solidariedade a Lula.
Porém, houve mais. O próprio depoimento foi desfavorável a Moro. Além de não haver nenhuma prova apresentada, em vários momentos Lula confrontou o juiz da Lava Jato, acusando-o de vazar ilegalmente conversas sigilosas e particulares.
A atitude de Lula levou Moro à defensiva (“eu não tenho nada a ver com isso”, “a culpa não é minha”, afirmações prontamente contraditadas por Lula). Moro despiu o manto da imparcialidade, o que a mídia, atordoada num primeiro momento, não escondeu. As avaliações dos meios de comunicação, como a que houvera um “empate” entre Lula e Moro, deixam claro que ali não se tratava de um encontro entre um juiz e um cidadão que não é réu, mas entre a maior liderança da classe trabalhadora e um serviçal dos golpistas e do imperialismo.
O jurista Lenio Streck afirmou que “Moro extrapolou seu poder de juiz”. Após o depoimento, outro jurista, Afrânio Silva Jardim, pediu a retirada de um artigo escrito por Moro, num livro em sua homenagem. Até jornalistas claramente alinhados com os golpistas criticaram o juiz e seus métodos.
Mas o atordoamento não durou muito. Já no dia seguinte, a mídia unida intensificou os ataques a Lula. Desde manchetes “Lula culpa Marisa” (sua falecida esposa), à farta divulgação dos depoimentos dos publicitários João Santana e Mônica Moura, liberados pelo STF no dia seguinte ao depoimento de Lula até declarações de empresários de que a volta de Lula ao governo é inadmissível.
Isso mostra que não há mais retorno possível. Os golpistas não podem interromper sua ofensiva. Vão fazer de tudo para ir até o fim. A principal arma de que a classe trabalhadora dispõe é a compreensão de que para ela também não há mais volta. Ou enfrentar a ofensiva golpista ou aceitar a retirada de todos os seus direitos, todas as suas conquistas.
Roberto Salomão